Qual o melhor copo para cada cerveja?

27/08/2018

Talvez seja o mais popular no Brasil – depois do copo americano, claro. É que ele cai bem com as cervejas aguadas leves que dominam o mercado – todas do tipo pilsen, que é um subtipo das lagers (o outro reino cervejeiro é o das ales, mais encorpadas). Vai bem porque a borda, levemente fechada, concentra a espuma. E espuma é importante para manter as pilsens frescas – a bebida mais comum no inferno é pilsen quente. Já o copo americano só serve mesmo para você tomar tudo antes que a cerveja esquente.

PINT
“Tomar um vinho bom num pint é considerado sacrilégio. Então por que é que a gente usa isso para tomar cerveja?”, questionou o especialista Ben McFarland certa vez. Bom, primeiro porque não é muito bacana virar meio litro de vinho. McFarland, porém, também acha que meio litro é cerveja demais, e que o pint não tem nada demais – seria só um balde de vidro com capacidade suficiente para te deixar bêbado no primeiro copo. De fato. Se a cerveja em questão for uma IPA com 7% de álcool é precisamente isso que vai acontecer. Se a gradação alcoólica for maior ainda, o terceiro pint provavelmente será seu passaporte para o hospital. Um inglês típico, de qualquer forma, toma dez, e volta para casa andando em linha reta. Vai entender.

Mas é por isso mesmo que o povo das “artesanais” ama pints. Por isso e porque espuma não é o forte das ales britânicas – e quase toda artesanal é tem raízes nas ales britânicas. Para quem se acostumou, de qualquer forma, o pint não serve só para cerveja – eu mesmo recomendo para Coca-Cola e Nescau, principalmente se você tomou pints demais na noite anterior.

Uma informação mais útil: a palavra “pint” não surgiu como nome de copo, mas como unidade de medida.Nos EUA, corresponde a 473 ml. Na Inglaterra, onde tudo começou, a gordos 568 ml.  Até por isso os copos oficiais de algumas cervejas da ilha da Rainha, como a London Pride, são descomunais.

SNIFTER
O estreitamento no topo do copo snifter ajuda a reter o buquê. A base larga e arredondada é para você transferir calor das suas mãos, o que dá uma volatilizada nos aromas. É um copo bacana para cervejas fortes, como as imperial stouts – cervejas que, quando estão geladas demais, tornam-se tão interessantes quanto um copo de gasolina.

CÁLICE (OU GOBLET)
A grande função dele é a óbvia: você segura na base e a cerveja não esquenta. Como é pequeno, cai bem com cervejas estupidamente fortes, mas que, diferentemente das imperial stouts, devem ser tomadas bem frias – é o caso de basicamente todas as ales belgas, especialmente as quadrupels, que têm tanto álcool quanto vinho.

TULIPA (DE VERDADE)
“Tulipa” lá fora é este copo bonitão aqui em cima (no Brasil, você sabe, “tulipa” é o copo finhinho e comprido, que só tem função estética – fica bonito cheio de líquido amarelo borbulhante).

A tulipa gringa, enfim, lembra o snifter. A afunilada também está ali para reter os aromas e blábláblá. Então ele é bom para a fauna de cervejas belgas, cheia dos sabores diferentões, e para as IPAS, que são uma selva de lúpulo.

De quebra, ele vem com design camarada: tem uma borda voltada para fora que se ajusta aos lábios e sustenta o colarinho.

Por sinal: agora, que as IPAS estão virando quase que as novas pilsens no gosto de quem gosta de uma gelada, esses copos ganham cada vez mais terreno. Na verdade, meio que vale tomar qualquer coisa neles. Inclusive vinho (Nescau não cai bem; a parte superior mais estreita atrapalha os movimentos da colher, diriam os sommeliers de achocolatado – caso eles existissem).

Coloque um copo lager e a Taça da Fifa para acasalar, e os rebentos terão a cara destes copos alemães. A bojuda parte superior está ali para garantir um colarinho fotogênico – coisa que as cervejas de trigo (weizen) teutônica produzem com tanto esmero.

Gigante, ele aguenta meio litro de cerveja com mais charme qualquer pint. Na Alemanha, porém, esse copão equivalente a um copinho americano. Grande lá são as canecas de um litro de chopp – e existe quem as use por lá para acompanhar o café da manhã.

O tamanho também permite que ele acomode todo o conteúdo de uma garrafa de 500 ml de cerveja de trigo não-filtrada, garantindo que o fermento remanescente na garrafa acabe despejado junto com o líquido. A ciência não sabe se isso realmente deixa a cerveja melhor. Mas o ritual de secar a garrafa no copão até a última gota é lindo.

É isso. E na falta de qualquer um dos copos que você viu aqui, pode ficar tranquilo. O efeito mais interessante da cerveja, afinal, não depende de nenhum deles.

Fonte: Superinteressante