Pandemia desafia consolidação de SP como capital da cerveja artesanal no país

29/04/2020

A produção de cervejas na maior cidade do hemisfério Sul começou o ano de 2020 em alta e pujante. São Paulo nunca havia presenciado tamanha expansão da oferta de cervejas feitas localmente, e um crescimento exponencial na quantidade de estabelecimentos cervejeiros em todas as regiões do município. A cidade de São Paulo caminhava a passos largos rumo ao posto de capital cervejeira do Brasil. Mas, com as surpresas e desafios provocados pelo isolamento social em função da pandemia da Covid-19, a cerveja paulistana está agora diante de um grande momento de firmamento e provação.

A história da produção profissional de cerveja na capital paulista começou ainda no Brasil imperial de 1888, quando o cervejeiro alemão Louis Bücher convenceu o empresário Joaquim Salles a usar sua fábrica de gelo, chamada Antarctica, para produzir a primeira Lager brasileira. Eram feitos 6 mil litros de cerveja por dia na fábrica improvisada na Água Branca. O negócio prosperou e, alguns anos depois, novos investidores entraram na sociedade e uma fábrica maior na Mooca foi construída.

O grande crescimento urbano no século 20 levou a cidade de São Paulo a cada vez mais restringir atividades industriais no município, com leis ambientais e de zoneamento. Com isso, após o fechamento da fábrica da Brahma no bairro do Paraíso em 1980, a cidade viveu cerca de 30 anos sem produção cervejeira local.

Somente com mudanças na legislação e implementação de novos modelos comerciais no mercado cervejeiro, a capital paulista voltou a sentir o cheiro do malte virando cerveja. A partir de 2010, os brewpubs ganharam força na cidade. Estes estabelecimentos conseguiram as permissões ambientais e de zoneamento necessárias para produção de cerveja. Até cervejarias de fora do Brasil, como a Goose Island, começaram a produzir cervejas na cidade de São Paulo.

Com isso a produção paulistana de cervejas só cresce, ano após ano. Em 2018, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), haviam 9 cervejarias registradas na cidade de São Paulo. Já em 2019, a cidade fechou o ano com 27 cervejarias registradas no Mapa, um crescimento de 200%, muito superior ao crescimento nacional que ficou em 36%.
LEIA TAMBÉM – Infográfico: Brasil passa de 1.200 cervejarias em 2019

Esses números levam a cidade de São Paulo a ser a segunda cidade com mais cervejarias no Brasil, apenas atrás de Porto Alegre que possui 39 cervejarias registradas, e superando cidades como Nova Lima, Caxias do Sul e Curitiba, que historicamente sempre tiveram mais cervejarias do que a capital paulista.

No último aniversário da cidade, em janeiro, o Festival das Cervejarias Paulistanas contou com 13 cervejarias de todas as regiões da cidade. O Guia esteve presente no evento e pode constatar a ótima qualidade e a grande variedade das cervejas feitas em São Paulo.

Com esse crescimento, aliado ao tamanho do público e à característica cosmopolita da cidade, parecia iminente a consolidação de São Paulo como a capital cervejeira do Brasil. Mas o cenário da pandemia da Covid-19, com o isolamento social e o fechamento dos bares, freou as pretensões cervejeiras paulistanas.

Agora, os empresários locais estão se adaptando e promovendo ações que permitam a retomada após o fim do isolamento. “O problema é que não temos perspectiva de quando irá voltar o mercado. O mercado de eventos, mesmo quando voltar, as pessoas vão ter medo de aglomerações. É uma coisa inacreditável o que está acontecendo no mundo”, afirma Gilberto Tarantino, sócio da cervejaria com maior volume de produção na cidade, a cervejaria Tarantino que fica na Zona Norte no bairro do Limão.

“Temos 9 anos de história e já passamos por muitas situações, nada parecido com o que estamos vivendo agora, claro, mas estamos nos mantendo fortes e otimistas para enfrentarmos tudo isso”, conta Beatriz Cury, gerente de marketing e vendas da Cervejaria Nacional, em Pinheiros, zona Oeste da cidade.

Rogéria Xerxenevsky, sócia proprietária da cervejaria X Craft Beer que fica no Jardim Marajoara, na zona Sul, vê a cerveja artesanal mais forte após a pandemia. “Nós vamos chegar lá. Vai ser um ano mega-apertado, difícil, mas nós vamos chegar lá do outro lado. Mais fortalecidos, talvez, com o público conhecendo mais sobre cerveja artesanal”, diz.

Fonte: Guia da Cerveja