Cinco perguntas para um especialista em cerveja

05/08/2019

Essa semana foi de celebrar uma das paixões nacionais: a cerveja gelada. É que toda primeira sexta-feira do mês de agosto (2), diversos países comemoram o Dia Internacional da Cerveja. E aproveitando a deixa, convidamos um dos expoentes do assunto em Mato Grosso para falar sobre o universo cervejeiro: o beer sommelier e mestre em estilos, Élvio Resende.

A família dele é uma das pioneiras da cidade. O negócio, que começou com a distribuidora Serra Grande, localizada na Morada do Ouro, em Cuiabá, cresceu, ganhou também a Serra Grande A Casa da Cerveja e por consequência, sua fama, também.

Como primeira formação, ele é economista, especializado em gestão de negócios. Quando terminou a especialização, procurando oportunidades de negócios para a família, detectou que o ramo de cervejas artesanais era um terreno fértil.

Élvio foi fazer, então, o curso de beer sommelier na Associação Brasileira de Sommelier, em São Paulo, e depois um mestrado em estilos de cerveja. Na área, ele já atua há 10 anos. Segundo Élvio, qualquer pessoa, que pelo menos tenha uma intimidade com as bebidas, pode se aventurar no curso. Vale ressaltar, como consultor, Élvio é responsável pelas cartas de vários restaurantes da cidade.

Ao LIVRE, o mestre em estilos de cerveja revelou que, quando sua família introduziu o mercado de cervejas artesanais, ela tinha o objetivo de fomentar o mercado e acredita tê-lo atingido, com o desenvolvimento do mercado, principalmente em Mato Grosso.

Ele também comentou sobre a participação de mulheres no ramo. “A gente percebe que cerveja é pra todo mundo. E a cada dia que passa elas ocupam mais mesas, sozinhas ou entre amigas. E não só como consumidoras, muitas estão se engajando no ramo da produção e investindo em capacitação ao se tornarem sommelier”.

Confira as cinco perguntas para o mestre em estilos de cerveja:

1- O que faz um beer sommelier? E como foi o curso de estilos de cerveja?
Élvio Resende: A função dele é um pouco ampla. Ele é responsável pela análise sensorial das cervejas, responsável, por exemplo, pela construção da carta de cerveja, pelo serviço delas, a forma correta de servir uma cerveja, o copo, a temperatura. Hoje ele também entra muito na parte de harmonização, sugestão de cervejas para acompanhar determinados pratos. Na parte de análise sensorial, o desenvolvimento de produtos. Também pode ser um educador, formando garçons e cumins (quem auxilia o garçom no atendimento).

2- Qual era o gosto da cerveja mais inusitada que você já experimentou?
ER: Essa é uma boa pergunta. Existem duas cervejas que foram interessantes. Uma é uma cerveja com melancia, da cervejaria Founders. Ela une essa coisa da melancia com sal marinho. Era uma cerveja muito diferente e que marcou muito.

A outra traz um pouco de inusitado porque é a junção de vinho e cerveja, é a Quatre Blanc, da Cervejaria Dádiva. É a união de um barril e maturou uma cerveja. Era muito diferente.

3- Acha correto dizer que todo cervejeiro é bêbado?
ER: Não, pelo contrário. A gente que está no mercado de cervejas artesanais busca uma responsabilidade com relação ao consumo de bebidas. Até para desmistificar um pouco essa questão. Porque, para o grande público, a ideia geral é a de que um bom bebedor de cerveja é aquele que bebe demais, e para a gente que é da linha de cervejas artesanais isso não tem nenhum sentido.

Um bom cervejeiro é aquele que consegue identificar os estilos, aquele que aprecia, aquele que tem um controle sobre a bebida e que busca um controle responsável.

4- Das cervejas populares, qual sua preferida e a que menos gosta?
ER: Das populares, a minha prefeitura é a Heineken. Ela é uma cerveja com um acabamento muito bom, tem um pouquinho de amargor, então traz uma característica bem legal.

(Elegante, despistou a reportagem e não respondeu qual cerveja menos lhe agrada).

5- No país, houve uma queda no consumo das cervejas durante três anos consecutivos, enquanto o número de cervejarias aumentou. Como você vê o futuro desse mercado?
ER: Tem uma relação mesmo. O que acontece é que, primeiro tem a questão de responsabilidade, de você beber menos mas com qualidade maior. As cervejas artesanais vêm buscando o foco na qualidade do que você está bebendo e acaba tomando o mercado das cervejas comerciais, que buscam apenas volume.

É óbvio que o mercado no Brasil abre um leque muito grande, com destilados, vinhos, drinks, e a cerveja acaba perdendo espaço. É a reorganização diante da grande quantidade de bebidas disponíveis. A gente vê um crescimento muito grande principalmente no seguimento de drinks. Hoje todos os bares, praticamente, tem uma boa carta de drinks, então eu vejo isso normal.

Eu vejo que o mercado de cerveja artesanal vai continuar crescendo. Novas cervejarias, novos projetos que vêm ai. E se houver, por parte dos governos estadual e federal, um olhar com mais carinho, aí sim vamos ter uma expansão ainda maior, porque eu acho que o que impede o mercado de ser mais representativo é a questão tributária, que ainda pega muito para quem é pequeno.

Fonte: O Livre