Antigo império peruano mantinha paz com festa e cerveja

24/04/2019

As cervejas artesanais estão na moda, mas essa bebida é um elemento muito antigo nas sociedades. E ajudou a pavimentar a paz entre os povos.

Há mil anos, o império Wari dominou o Peru. Os Wari governaram por cerca de 500 anos, de 600 a 1100 dC, ocupando um enorme trecho de terra norte-sul que abrangia mais da metade da costa oeste daquele continente antes de os incas tomarem o país.

Uma equipe de pesquisadores americanos se perguntou como essa sociedade pode florescer por tanto tempo. Os cientistas identificaram então um fator importante: os elementos relacionados ao trabalho de produzir e apreciar cerveja.

De acordo com a pesquisa, a oferta constante de cerveja poderia ter ajudado a manter a sociedade Wari estável. O império Wari era enorme e constituído por diferentes grupos de pessoas de todo o Peru.

Há quase vinte anos, pesquisadores do Field Museum, de Chicago, descobriram uma antiga cervejaria Wari em Cerro Baúl, nas montanhas do sul do Peru. Eles descobriram que cerveja que os Wari fabricavam, uma bebida leve e azeda chamada chicha, só ficava boa durante uma semana, então pessoas de fora tinham que ir a festivais no Cerro Baúl para beber.

Esses festivais eram importantes para a sociedade Wari, já que as elites políticas locais compareceriam nos eventos. Eles beberiam chicha de vasos de cerâmica de três metros de altura decorados para parecerem com deuses e líderes Wari.

Para aprender mais sobre a cerveja que desempenhou um papel tão importante na sociedade Wari, a equipe analisou pedaços de recipientes de cerveja de cerâmica do Cerro Baúl. Eles usaram várias técnicas para dizer quais elementos atômicos compõem a amostra e quantos. Esses processos oferecem pistas de onde vinha a argila e de quais moléculas a cerveja era feita.

Para a análise da cerâmica da cervejaria, uma das pesquisadoras usou a técnica conhecida por DART: “direct analysis in real time”, ou “análise direta em tempo real”, uma técnica que fornece resultados rapidamente. Ela retirou um pouco do pó dos fragmentos e introduziu-o em um instrumento, que traduz o material em uma espécie de impressão digital molecular.

Os autores observam que as implicações do estudo sobre como identidade compartilhada e práticas culturais ajudam a estabilizar as sociedades são cada vez mais relevantes hoje.

“Essa pesquisa é importante porque nos ajuda a entender como as instituições criam os vínculos que unem as pessoas de grupos muito diversificados e formações muito diferentes”, diz Ryan Williams, do Field Museum. “Sem eles, grandes entidades políticas começam a se fragmentar e se dividir em coisas muito menores. O Brexit é um exemplo dessa fragmentação na União Européia hoje. Precisamos entender as construções sociais que sustentam essas características unificadoras se quisermos ser capazes de manter a unidade política na sociedade”, diz.

O estudo foi realizado por Ruth Ann Armitage, da Universidade Eastern Michigan, Ryan Williams, do Field Museum de Chicago, Donna Nash, do Field Museum e da Universidade Greensboro da Carolina do Norte e Josh Henkin, do Field Museum e da Universidade de Illinois, em Chicago, e foi publicado em 18 de abril no periódico científico “Jornal Sustentabilidade”.

Fonte: Revista Planeta